Cidades Eficientes: “Quando a prefeitura assume o protagonismo, ela também move o setor privado e os cidadãos”

“Não temos uma receita única. O importante é que cada prefeitura tome a decisão de iniciar o processo de evolução – que passa pela transição energética, pela inovação tecnológica, pela descarbonização, pela adaptação às novas condicionantes climáticas, e até mesmo pela simples conscientização e engajamento das pessoas”. Com esse alerta, Clarice Degani, diretora executiva do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) deu início ao evento “Cidades eficientes e o papel das prefeituras brasileiras”, realizado nesta quarta-feira (19.02), no formato híbrido, marcando o encerramento da quinta fase do Programa Cidades Eficientes, desenvolvido pelo CBCS com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS). O evento está disponível na íntegra no canal do CBCS no YouTube. 

Ao citar as diferentes ações desenvolvidas em parceria com os municípios atendidos nesta quinta fase do programa – Florianópolis, Rio de Janeiro, Palmas, Rio do Sul e Teresina – Clarice destacou a importância da governança municipal. “Ao observar as cidades que já adotaram iniciativas bem-sucedidas, percebemos que a liderança municipal é fundamental. Quando a prefeitura assume o protagonismo, estabelecendo metas e orquestrando ações com o setor público, o setor privado e a sociedade civil, ela se torna exemplo não apenas para a população local, mas também para outros municípios, estados e, eventualmente, para outros países. Com uma governança clara, recursos bem aplicados e transparência nos resultados, podemos acelerar a transição energética local e, ao mesmo tempo, contribuir para os compromissos climáticos do Brasil”, reforçou. 

Clarice Degani, diretora executiva do CBCS

Entre as principais ações desta quinta fase do programa esteve a implementação da plataforma digital de Gestão de Consumo de Energia e Água para edificações públicas municipais. A ferramenta viabiliza o gerenciamento dos indicadores de consumo de energia, água e gás dos edifícios públicos, seus custos mensais e desempenhos em função da tipologia, área construída e ocupação. Seu uso permite o estabelecimento de benchmarks internos e comparativos entre os vários edifícios das prefeituras.  “A plataforma oportuniza mais eficiência na gestão, menos consumo de água e de energia, mais consciência ambiental e mais economia aos cofres públicos”, destacou a arquiteta Maria Andrea Triana, coordenadora técnica do Programa Cidades Eficientes. Durante o evento, foram apresentados os resultados de cada eixo do programa – Gestão de Consumo, Capacitação e Políticas Públicas, com a participação das pesquisadoras do programa Giselle Bahiense Lyra, Juliana May Sangoi e  Carolina Griggs.

 

Maria Andrea Triana, coordenadora técnica do Programa Cidades Eficientes

 

“Liderar pelo exemplo”

Para Daniel Mancebo, coordenador geral do Escritório de Planejamento da Prefeitura do Rio de Janeiro, o trabalho desenvolvido em parceria com o CBCS cria oportunidades de desdobramentos importantes, alinhados com o compromisso da cidade de neutralizar suas emissões até 2050. “Precisamos realmente implementar estratégias específicas para que as edificações sejam mais eficientes, entendendo que isso tem um impacto direto nas emissões da cidade. As prefeituras podem liderar pelo exemplo, dizer como fazer melhor. E também trazer o aspecto econômico que é indissociável. Temos que economizar recursos públicos para outras estratégias da cidade, como questões sociais e questões urbanas”, disse. 

Florianópolis, primeiro município brasileiro a implementar a plataforma de Gestão de Consumo de Energia e Água do CBCS, avançou no aprimoramento da ferramenta e em outras iniciativas. “Nós estamos há sete anos trabalhando juntos. A gente construiu, inclusive, uma área dentro da prefeitura que já trabalha com a parte de inovação e sustentabilidade urbana que não tínhamos e isso é uma construção. Hoje, talvez, os gestores já entendam um pouco melhor a importância desse trabalho da eficiência energética, do uso da água, da sustentabilidade nos prédios públicos e tudo isso, como pontos importantíssimos, buscando a mitigação da emissão de gases de efeito estufa e a melhoria para todo o planeta”, disse Cibele Assmann, gerente de inovação da Secretaria Municipal de Planejamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano de Florianópolis (SC). Ela fez questão de agradecer à equipe do CBCS pela oportunidade. “Aqui no evento vocês puderam ver um pouquinho de um trabalho de excelência e que não é comum a gente ter acesso dentro das prefeituras, podendo aplicá-lo no nosso trabalho técnico e nas políticas públicas”, destacou. 

Para os municípios beneficiados pelo Workshop Mais Eficiência, Menos Consumo, de capacitação e orientação para implementação da plataforma, a experiência foi enriquecedora. “Algo que nos incentivou e trouxe um olhar mais crítico foi a questão da implantação dessa política e visão de gestão de consumo que precisamos estar mais atentos (…) Quando a gente não enxerga o quanto está gastando, acaba se despreocupando um pouco. (…) Eu acredito que a plataforma vem para nos ajudar nesse sentido, vamos conseguir gerenciar melhor os nossos consumos e, consequentemente, conseguir reduzir os nossos gastos”, afirmou Raquel Ribeiro das Virgens, da Secretaria Municipal da Habitação de Palmas (TO). 

Para Carolina Bini, do Departamento de Urbanismo da Prefeitura de Rio do Sul (SC), foi muito importante para a cidade a discussão sobre a necessidade de eficiência energética, de troca de equipamentos, do cálculo do custo-benefício de equipamentos e, com isso, a redução de custos.  “A plataforma ainda está em desenvolvimento e tomara que continue, mas já houve evolução aqui na cidade em relação ao entendimento de que a sustentabilidade precisa estar em pauta, precisa ser uma prioridade inclusive entre as secretarias”, frisou.  Os desafios de levantamento e cadastramento do estoque de edifícios públicos municipais e, especialmente, de coleta dos dados de consumo de cada unidade junto às concessionárias foram apontados por todos os participantes. “Foi justamente com a ajuda da equipe do CBCS que a gente conseguiu. Estavam sempre nos apoiando e foi muito gratificante”, disse Roberto Santos, de Teresina (PI).

 

Raquel Ribeiro das Virgens, de Palmas (TO), Carolina Bini, da Prefeitura de Rio do Sul (SC) e Roberto Santos, de Teresina (PI).

Expectativa de continuidade

Apesar da conclusão da quinta fase do Programa Cidades Eficientes, ele deverá manter a sua continuidade. “Embora o apoio do iCS esteja chegando ao fim, o Programa Nacional de Conservação de Energia e o Ministério de Minas e Energia se interessaram muito por ele devido ao sucesso e a replicabilidade entre as prefeituras e devem continuar nos apoiando”, anunciou Roberto Lamberts, conselheiro e coordenador do CT Energia do CBCS, durante o evento. Na sequência, Victoria Santos, Gerente de Energia e Indústria no iCS, comemorou a notícia. “A gente se sente com dever cumprido, quando vê o tamanho que alcançou o Programa Cidades Eficientes, os resultados, a formação dos atores de municípios importantes (…). Esse projeto precisa continuar (…) precisa ser escalado para mais prefeituras”, enfatizou. 

 

O evento foi realizado na Arena Conecta, na sede da Aemflo/CDL em São José (SC), e contou com transmissão ao vivo pelo canal do CBCS no YouTube: @cbcsconstrucaosustentavel. 

 

Clique e assista na íntegra. 

 

Sobre o Programa Cidades Eficientes

Realizado pelo CBCS com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), o programa Cidades Eficientes desenvolve análises, estudos, ferramentas e sugere políticas públicas tais como a plataforma de gestão de consumo de energia e água, diretrizes para a elaboração de códigos de energia, recomendações para códigos de obras e guias de compras públicas que sejam mais sustentáveis para os municípios. As ações foram iniciadas em 2018, respondendo à demanda crescente do setor público para aumentar sua eficiência no uso dos recursos, com diversos municípios brasileiros atendidos.

Em 2024, em sua quinta fase, o programa escalou nacionalmente estratégias para a governança na gestão do consumo de energia, água e gás pelas edificações públicas municipais, com o Workshop Mais Eficiência, Menos Consumo – que resultou na implementação da plataforma de gestão pelas prefeituras de Palmas (TO), Rio do Sul (SC) e Teresina (PI); deu continuidade nas medidas iniciadas nas prefeituras de Florianópolis e do Rio de Janeiro, promoveu requisitos para compras de baixo carbono, e divulgou os resultados alcançados na promoção da eficiência energética e conservação da água nas edificações.

Entre as ações de 2024, também foi realizada uma Gincana Energética na Escola Municipal Vicente Licínio Cardoso, localizada na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, envolvendo funcionários, professores, alunos, especialistas do CBCS e representantes da ENBPar – empresa executora do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel/MME), e identificou muitas oportunidades de melhoria da eficiência. Foram realizadas pesquisas nas escolas municipais de Florianópolis, Palmas e Teresina para identificação de oportunidades de eficiência energética e redução do consumo de água em relação a equipamentos, estrutura, manutenção e hábitos e produzidos dois guias com diretrizes para a gestão de energia e água nas escolas municipais. E ainda foi publicada uma carta aos candidatos aos cargos de prefeito e vereador das cidades brasileiras nas eleições de 2024 com propostas de medidas para o alcance de cidades mais sustentáveis e eficientes.

Equipe do Cidades Eficientes: Liége Garlet, pesquisadora; Clarice Degani, diretora executiva do CBCS; Olavo Kucker Arantes, conselheiro do CBCS; Maria Andrea Triana, coordenadora técnica do programa; Carolina Griggs, pesquisadora; Giselle Lyra, pesquisadora; Juliana May Sangoi, pesquisadora; Thalita Maciel, pesquisadora; e Letícia Wilson, assessora de comunicação.

 

Fotos: Fernando Willadino | CBCS